Se você está na terceira idade ou tem um ente querido mais velho, é importante estar ciente da fratura do colo do fêmur.
O colo do fêmur é a região do fêmur proximal que compõe a articulação do quadril, conectando a cabeça do fêmur a região trocantérica. Ela merece atenção especial por ser uma região que fica frágil em pacientes que têm osteoporose, propensa a fratura (quebra) mesmo com traumas de baixa energia, como queda da própria altura, algo relativamente comum na pessoa idosa. Em pessoas acima de 75 anos, a cada 100 idosos, 32 sofrem queda ao solo em 1 ano e
11 dessas quedas provocam algum tipo de fratura. Das fraturas de quadril, metade acomete o colo do fêmur.
Essa fratura chega a ser três vezes mais frequente em mulheres idosas do que em homens da mesma faixa etária, pois as mulheres são mais acometidas pela osteoporose (condição que deixa os ossos mais frágeis por falta de cálcio).
É importante entender que o risco de uma fratura de quadril está ligado a duas condições principais: OSTEOPOROSE e RISCO DE QUEDA NO IDOSO. Então, condições que levam a osteoporose (ou sugerem maior risco de osteoporose) como baixo nível de atividade, tabagismo, fratura osteoporótica prévia, história materna de fratura de quadril, uso recorrente de corticoide, menopausa e as condições que aumentam o risco de queda no idoso como uso de calçados inadequados, baixa iluminação do ambiente, batentes, tapetes, animais de estimação, fraqueza muscular (sarcopenia senil), diminuição da acuidade visual, doença neurológica, uso de medicações psicoativas de forma ou na dosagem inadequada.
Como tudo na vida, é muito melhor prevenir do que remediar. Então se você é idoso ou cuida de um idoso, para prevenir a fratura do colo do fêmur, procure o geriatra, o ortopedista, o ginecologista, o endocrinologista ou o reumatologista para que possa ser prescrito o tratamento adequado para a osteoporose.
Ah, o conceito que muitas pessoas têm de se expor ao sol para produzir vitamina D e tratar osteoporose não é correto! A exposição ao sol é uma medida ineficaz porque a pele do idoso já não tem tanta capacidade de produzir vitamina D na forma ativa e, pior que isso, a exposição ao sol nos períodos de maior incidência solar aumenta o risco de câncer de pele. Existem medicações e suplementos adequados para tratar cada condição de osteoporose.
Para prevenir o risco de queda, existem dois principais pontos: a intervenção no ambiente e a intervenção na condição física do idoso. Com relação ao ambiente, é importante que o idoso não tenha obstáculos, logo, evitar batentes na casa e retirar tapetes ajudam muito. Manter os móveis na posição habitual ajuda, contanto que exista espaço suficiente para o idoso caminhar entre eles. Uma dica fundamental é manter uma boa iluminação no ambiente, inclusive, é importante lembrar que os idosos costumam se levantar na madrugada para ir ao banheiro, então, manter a luz do banheiro acesa durante a madrugada ou ter um interruptor ao lado da cama evita quedas. Outro fator que merece atenção especial são os animais de estimação. É muito comum que o animal de estimação tenha o idoso como melhor amigo e fique sempre atrás dele, então é frequente o idoso cair quando vai se virar e tropeça no animal de estimação. Outro ponto fundamental é o uso de calçados adequados, principalmente calçados que fiquem bem presos aos pés (os que prendem atras), sandálias do tipo havaianas podem se desprender do pé do idoso e provocar a tão temida queda. Para mais informações sobre o tema, indico https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-da-pessoa-idosa (acesso em 15/01/2024).
Mas, sem dúvida, o mais importante desse texto é passar o recado de que o idoso deve se manter ativo e fazer exercícios anaeróbicos como musculação. Uma consulta prévia com o cardiologista é importante para saber quais os limites e orientações da atividade física. Hoje sabemos que realizar exercícios de força muscular é fundamental para o idoso. Uma melhor força muscular pode evitar a queda, pois melhora a reação e os mecanismos de defesa instintivos que vamos perdendo quando a condição de fraqueza muscular se instala. Mesmo que a queda ocorra, músculos mais fortes são capazes de absorver parte do impacto e dissipar a força da queda que iria toda para o colo do fêmur, diminuindo assim a chance de fratura.
Mas diminuir a chance de queda e fratura do fêmur é um dentre vários benefícios que o fortalecimento muscular traz para o idoso. Combater a sarcopenia senil (enfraquecimento muscular que ocorre naturalmente no idoso) é fundamental para manter o idoso ativo, com mais autonomia nessa fase da vida. A atividade física também combate a depressão e melhora as taxas do sangue. Então, músculo é qualidade de vida. É o melhor prognóstico e cura de muitas dores. Idoso com bom nível de força muscular é idoso que vive bem!
Bom, mas quando a pessoa idosa cai, como suspeitar que ele pode ter quebrado o colo do fêmur? Geralmente ele sente uma dor importante na região da virilha (região inguinal) que o impede de levantar e até de movimentar o membro acometido. Nesses casos é importante ligar para a assistência médica e pedir ajuda. Não adianta ficar tentando levantar o idoso e fazendo ele sofrer, pois movimentar a região da fratura é que faz ele sentir dor forte. É importante relatar que às vezes o idoso até consegue se levantar e caminhar, mas fica com uma dor na virilha ou coxa que o incomoda muito e dificulta a deambulação. Nesses casos, o idoso também deve ser levado ao ortopedista para passar por avaliação, pois algumas fraturas podem ocorrer sem desviar o osso de forma significativa, mas invariavelmente o quadro irá piorar com o passar do tempo.
E qual é o tratamento para fratura de colo do fêmur na pessoa idosa? O tratamento de forma quase invariável é a realização da cirurgia para colocação de prótese no quadril (artroplastia de quadril). Basicamente, essa é a cirurgia de escolha porque quando ocorre a fratura do colo do fêmur, ocorre também o rompimento dos vasos sanguíneos que levam o sangue para a região da cabeça do fêmur.
Essa é uma condição que não tem como ser revertida, então a cabeça do fêmur fica condenada a necrosar sem a chegada do sangue e assim, provoca mais dor. Logo, a cirurgia de artroplastia de quadril resolve o problema, pois nela retiramos o osso fraturado e que iria necrosar e substituímos por uma prótese de quadril. A artroplastia de quadril foi eleita “a cirurgia do século” pela revista The Lancet desde 2007. Ela retira a dor, devolve a mobilidade de forma imediata e possibilita o idoso deambular novamente iniciando a reabilitação precocemente. Na maioria dos casos, coloco o paciente idoso, que eu operei, de pé no dia seguinte a cirurgia e o ensino a caminhar com ajuda de andador conforme ele vai tolerando. Com a fisioterapia, a tendência é o idoso retomar suas atividades como era antes.
No entanto, é importante ressaltar que apenas 1/3 dos idosos recuperam a condição igual tinham antes da fratura. Outro 1/3 volta a andar, mas não da mesma forma que era antes. E ainda existe uma porcentagem que não consegue voltar a deambular dependendo das condições de saúde prévia, mesmo assim, a artroplastia de quadril será benéfica, pois possibilitará o alívio da dor e mobilização do paciente.
Quanto antes a cirurgia for realizada, melhor, pois ela devolve a mobilidade ao idoso e sabemos que ficar acamado provoca infecções urinárias e pulmonares. A prisão de ventre também costuma decorrer da imobilidade, além do risco elevado de trombose. Outro problema para os idosos que ficam acamados são os surgimentos das escaras (feridas devido à pressão na cama) na pele, pois a dor de uma fratura de colo do fêmur é tão intensa que mudar o paciente de decúbito pode ser quase impossível. O asseio do idoso fica bastante prejudicado também.
O desfecho de uma fratura de colo do fêmur pode ser catastrófico em pacientes que demoram a operar, sendo considerado um tempo razoável operar em menos de 48 horas após a fratura ter ocorrido, o que evita complicações e facilita a reabilitação.
Então, mesmo em paciente com idade muito avançada ( 80, 90, 100 anos), após avaliação do anestesiologista e cardiologista, a cirurgia de artroplastia de colo do fêmur é o caminho para devolver uma vida sem sofrimento, pois os riscos de não operar são maiores que os da cirurgia na maioria das vezes.
Como mensagem final:
- Adeque o ambiente para reduzir o risco de queda. Se necessário, consulte um arquiteto.
- A pessoa idosa DEVE realizar fortalecimento muscular. Não deixe para depois!
- Mantenha consultas regulares com um bom geriatra.
Clínica Ortovita – Hospital Rio Grande
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