Ortopedista em Natal – Dr. Caio Siqueira

A artrose de quadril ou coxartrose é uma doença caracterizada pela degeneração da articulação do quadril com desgaste da cartilagem e consequente perda do espaço articular e da conformação da articulação, muitas vezes causando dor e diminuição da amplitude de movimento (mobilidade). Em estágios mais avançados, ocorre a formação de ossos chamados osteófitos. Eles crescem em locais indevidos para tentar estabilizar uma articulação com a biomecânica alterada, contribuindo para diminuição da mobilidade e dor.

Artrose de quadril é uma patologia mais comum no idoso
Apesar de acontecer em qualquer idade, a artrose de quadril é mais comum no idoso. Causa dor e diminuição da mobilidade.

EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA

A coxartrose é mais comum no idoso e no gênero feminino, pois geralmente é resultado de anos de danos ao quadril. Por muito tempo, acreditou-se que a principal causa da doença era idiopática (causa desconhecida, sem algo que justifique). No entanto, com o aprimoramento do conhecimento sobre a articulação do quadril e sua biomecânica, muitas artroses outrora consideradas idiopáticas foram reconhecidas com algum dos inúmeros fatores causais dessa doença. Sabemos que além da idade avançada, a obesidade, a herança genética, a sobrecarga articular, os traumas e as doenças inflamatórias articulares (artrite reumatoide, por exemplo) são fatores causais muito comuns.

Um profissional capacitado deve reconhecer o quanto antes os fatores de risco e atuar não só no tratamento, como também na prevenção da artrose e seus estágios mais avançados.

Ao contrário do que muitos pensam, não é uma doença exclusiva de idoso. Muitas causas estão ligadas ao desenvolvimento de coxartrose, inclusive sequelas de doenças da infância como: infecção do quadril, doença de Legg-Calve-Perthes, Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ), Epifisiólise da Cabeça Femoral. A artrose nesses indivíduos pode se manifestar quando ainda são adultos jovens. Outra causa de artrose nesta faixa etária é a Necrose Avascular da Cabeça do Fêmur, que é de evolução rápida e tem aumentado muito o número de casos por ter como uma das causas possíveis a sequela ao COVID (leia o artigo sobre Necrose Avascular da Cabeça do Fêmur).

Radiografia de quadril sem artrose. Observe a cabeça do fêmur esférica e o espaço articular preservado.
Radiografia de quadril sem artrose. Observe a cabeça do fêmur esférica e o espaço articular preservado.
Radiografia de quadril de um adulto jovem com artrose por sequela de doença da infância.
Radiografia de quadril de um adulto jovem com artrose por sequela de doença da infância.

O DIAGNÓSTICO DE ARTROSE DE QUADRIL

O diagnóstico da artrose de quadril deve ser aventado pela história clínica do paciente e o exame físico. A dor na região da virilha (podendo ser em outras regiões ao redor do quadril) é a queixa mais comum. No entanto, devido a inervação e biomecânica complexa do quadril, a dor pode se manifestar na coluna ou até mesmo no joelho, exigindo maior cuidado e conhecimento para chegar ao diagnóstico correto. Outro sintoma frequente é a limitação da mobilidade do quadril, a qual sempre deve ser avaliada pelo ortopedista que suspeita de coxartrose. Em alguns pacientes, essa limitação impede o paciente de colocar meias e calçados, dificulta o caminhar, impede de cruzar as pernas e, em casos mais avançados, até de abrir as coxas (dificuldade de abduzir o quadril).

Para comprovar uma artrose suspeitada pelas queixas do paciente e o exame físico, na maioria das vezes uma radiografia (exame de raio x) de bacia é suficiente. As alterações que observamos no exame de um quadril com artrose são: perda da esfericidade da cabeça do fêmur; diminuição ou assimetria do espaço articular; formação de osteófitos e cistos ósseos, dentre outras a depender da causa.

Radiografia com artrose grave de quadril. Observa-se obliteração do espaço articular e formação de grandes osteófitos. Este paciente não tinha mobilidade do quadril.
Radiografia com artrose grave de quadril. Observa-se obliteração do espaço articular e formação de grandes osteófitos. Este paciente não tinha mobilidade do quadril.

TRATAMENTO

O tratamento da coxartrose depende de muitos fatores como: a gravidade da coxartrose (grau); do impacto na qualidade de vida; da idade do paciente; da ocupação profissional; da rotina do paciente; do grau de independência para atividades da vida diária; do índice de massa corporal (IMC); da causa da coxartrose; da expectativa do paciente quanto aos resultados do tratamento. Todas as opções para um determinado caso devem ser bem esclarecidas ao paciente, para que a decisão possa ocorrer em conjunto, sempre visando a melhora da qualidade de vida do paciente.

O tratamento mais adequado depende do grau da doença e das particularidades de cada paciente.
O tratamento mais adequado depende do grau da doença e das particularidades de cada paciente.

Tratamento conservador

 O tratamento conservador (sem cirurgia) pode ajudar bastante em alguns casos, principalmente os mais leves e a depender da causa. Consiste na perda de peso em pacientes com IMC elevado, fortalecimento da musculatura com fisioterapia e atividade física, evitar atividades de impacto na articulação do quadril. O tratamento do sintoma da dor pode ser realizado com analgésicos comuns (paracetamol, dipirona), anti-inflatórios esteroidais (corticoides) e não esteroidais (nimesulida, diclofenaco…) e pode-se lançar mão dos bloqueios de nervos e infiltrações articulares (com corticoide e ácido hialurônico, por exemplo) guiados por ultrassom ou escopia (raio x). O uso oral de colágenos, glicosamina e condroitina também pode ser apresentado como opção de tratamento, esclarecendo seus possíveis benefícios e limitações para cada caso.

A infiltração da articulação do quadril tem que ser bastante criteriosa. Seus benefícios e suas limitações devem ser esclarecidas ao paciente.
A infiltração da articulação do quadril tem que ser bastante criteriosa. Seus benefícios e suas limitações devem ser esclarecidas ao paciente.

     Dependendo do impacto na qualidade de vida do paciente, o tratamento cirúrgico é a melhor solução. A principal opção é a Artroplastia Total de Quadril (ATQ). Ela consiste suscintamente em “raspar” o osso do acetábulo, região em que a cabeça do fêmur se encaixa na pelve, e substituir por um implante de metal e outro material que pode ser polietileno (um tipo de plástico), cerâmica, dentre outros, e de retirar a cabeça do fêmur com a cartilagem e osso ruim e substituir pelo implante femoral. Os componentes acetabulares e femorais podem ser fixados de forma cimentada (cimento ósseo) ou não-cimentada (por pressão). A escolha dos implantes e forma de fixação envolve conhecimento técnico e habilidade do cirurgião. Cada caso deve ser avaliado e planejado para que o cirurgião chegue à escolha ideal do implante.

Portanto, se você já escutou falar que prótese não-cimentada é melhor que a cimentada, ou vice-versa, de forma generalizada, essa é uma afirmação equivocada.

Existe ainda a Artroplastia Parcial do Quadril, em que não colocamos um implante fixado no acetábulo, apenas substituímos o osso ruim do fêmur. Esse tipo de artroplastia tem uma durabilidade menor do que a ATQ e, portanto, fica reservado para pacientes mais idosos que já tem outras limitações de saúde e pouco deambulava. Tem seu uso mais frequente em paciente com fratura do colo do fêmur. A artrose no acetábulo contraindica essa escolha.

     Existem muitos mitos e medos quando se fala em colocar uma prótese. Dentre eles o medo de rejeição da prótese, baixa duração dos benefícios da cirurgia, medo de passar muito tempo sem andar ou até de não voltar a andar (ora, esta é uma cirurgia realizada para fazer o paciente andar rápido, muitas vezes no dia seguinte a cirurgia e sem dor), medo do ato cirúrgico e do procedimento anestésico, por exemplo. O desconhecimento traz o medo, portanto, considero que uma consulta bem realizada com esclarecimento de todas as dúvidas, vai fazer o próprio paciente perceber se a Artroplastia Total de Quadril é uma boa opção de tratamento ou não.

Quando bem indicada, a ATQ é uma das cirurgias, em toda a medicina, que traz mais benefícios, rápidos e duradouros, não à toa foi eleita “a cirurgia do século” pela revista The Lancet desde 2007. Importante falar que todo procedimento médico, por menor que seja, envolve algum risco, no entanto, é justamente quando o benefício é muito maior do que os riscos envolvidos, que uma cirurgia pode ser realizada.

Cabeça com artrose grave retirada durante artroplastia total de quadril em idoso.
Cabeça com artrose grave retirada durante artroplastia total de quadril em idoso.
Cabeça femoral retirada durante ATQ em paciente jovem. Assim como na foto à esquerda, observamos a falta de esfericidade em uma artrose avançada.
Cabeça femoral retirada durante ATQ em paciente jovem. Assim como na foto à esquerda, observamos a falta de esfericidade em uma artrose avançada.
Lesão extensa da cartilagem na cabeça femoral de adulto jovem 3 meses após trauma grave em quadril com fratura do acetábulo. A dor era insuportável e a ATQ a melhor solução.
Lesão extensa da cartilagem na cabeça femoral de adulto jovem 3 meses após trauma grave em quadril com fratura do acetábulo. A dor era insuportável e a ATQ a melhor solução.
Peça anatômica com cabeça femoral (e) apresentado esfericidade e cartilagem em bom estado (sem artrose).
Peça anatômica com cabeça femoral (e) apresentado esfericidade e cartilagem em bom estado (sem artrose).
Radiografia de quadril com pós cirurgia de ATQ. O paciente recupera a mobilidade e a qualidade de vida (sem dor) quando a cirurgia é bem indicada e executada.
Radiografia de quadril com pós cirurgia de ATQ. O paciente recupera a mobilidade e a qualidade de vida (sem dor) quando a cirurgia é bem indicada e executada.
Radiografia de quadril com prótese parcial de quadril. Cirurgia mais comum em pacientes com fratura do colo do fêmur e baixa expectativa de vida.
Radiografia de quadril com prótese parcial de quadril. Cirurgia mais comum em pacientes com fratura do colo do fêmur e baixa expectativa de vida.

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